Como falar do Vasco de Acari sem falar das lembranças na vida de cada atleta numa trajetória individual, qualquer jogador que se atenha a lembrar a história daquele time de futebol vai está sempre colocando sua própria história como jogador.
Lembro ainda da primeira bola que ganhei de meu pai, tinha 4/5 anos de idade quando a ganhei, teve um motivo bem considerável para que a recebesse como presente. O motivo ao qual me refiro está bem nítido em minha memória quando meu pai me levou ao campo de futebol num dia de domingo a tarde no acampamento em Curimatã, Paraíba, acampamento como o de Gargalheiras e lá também se tratava da construção de um açude e nesse passeio ao campo estavam os jogadores reunidos em círculo e o goleiro no meio e os mesmos chutavam a bola para o centro e o goleiro pegava. Só que não resisti somente em ver de longe queria estar perto e num descuido de meu pai adentrei ao campo e coincidiu que Chico Leite que tinha a fama de bater forte na bola chutou e passou por todos os jogadores e a bola veio em minha direção. Não contei conversa, estendi as mãos e aparei a bola.
Primeiro dia na escola em Curimatã - PB
Todos gritavam ao mesmo tempo chamando atenção. Cadê o pai desse menino.
O Resultado não foi nada bom para mim porque o castigo foi de não voltar ao campo para assistir aos jogos, mas por outro lado ganhei uma bola de presente vindo de Campina Grande-PB, a dita cuja era conhecida como bola de capotão, mas antes mesmo de chegar a jogar com essa capotão, algumas meninas jogando voleibol furaram-na e foi uma decepção para mim, não servindo mais para nada foi partida ao meio e tornando-se um chapéu de couro para usar na cabeça.
Tudo isso está bem nítido em minha memória, até mesmo o dia em que viemos morar em Acari. Não sou muito de lembrar data, mas acho que 1964/1965, só sei que chegamos a noite e era numa festa de agosto porque o que tinha de varetas de fogos de artifícios no campo de futebol onde hoje se localiza o Centro Paroquial era por demais absurdas.
Ora! Um campo de futebol para mim era a plena alegria correr atrás de uma bola. No dia seguinte corri logo para o campo, já tinha 8/9 anos de idade, e estavam os jogadores em círculo também fazendo a brincadeira do doidim (alguém servindo de palhaço tentando tomar a bola enquanto os jogadores passavam a bola um para o outro) e lembro que corri muito, chinela nas mãos para não perder, tentando tomar essa bola enquanto arrancava gargalhadas dos otários. Otários? Sim! Porque se assim não fosse não estaria correndo atrás de uma bola que era o que mais queria naquele momento.
Apenas um jogador consigo lembrar era um tal de Priquito de Pau e por sinal devo ter essa lembrança devido ao apelido. Alguém daquela época deve reconhecer esse jogador.
O campo de futebol estava sendo desativado para dar lugar às construções de casas e naquela mesma época estavam sendo instaladas as redes de energia elétrica e era o local onde os postes de cimento estavam expostos em quantidades era o novo passo que Acari estava dando em prol ao desenvolvimento.
A vida não era fácil para ninguém, tudo era muito difícil embora a felicidade das coisas simples nos dava entusiasmo em tudo que fazíamos.
Para jogar futebol, antes teria que fazer os mandados da minha mãe, ir na bodega de Epitácio, comprar farinha, rapadura, bolachas comum sem falar na passagem pela Pharmácia de Seu Hosa para comprar Saridon (comprimido para dor de cabeça) e aproveitava e comprava sem ela saber o melhoral infantil para sair mastigando feito confeito, até que um dia seu Hosa perguntou a minha mãe quem era que tomava tanto melhoral infantil na nossa casa e olhou para mim e sorriu e eu disse a ela: fui eu que pedi porque gostava como confeito. É lógico que fui chamado a atenção e ensinado que demais poderia fazer mal, dito pelo Sr, Hosa homem íntegro e leal a sua profissão.
O campo de futebol onde hoje é o Palácio dos Esportes Jorácio Mamede Galvão que se estendia até mais ou menos a curva no asfalto separada por uma cerca de arame era o nosso Maracanã e o time principal adulto daquela época era o Jangada futebol Clube e gostava de ver um artilheiro fazer gols e mais gols esse artilheiro era o Toinho Quixó, mas também jogavam Saly, Julhinho, Zeca de Doutor Odilon Hirohito, Tião, Mozar naquela época já frequentava Acari dentre outros.
O time de Gargalheiras era nossa representação maior e recebia times que vinham de vários lugares para a peleja aos domingos e nós íamos ver aos jogos e torcer pelo Gargalheiras em especial pelo Zé Velho que era o nome da época nascendo para o futebol, além de outros como Sidônio, Pojuca.
Gargalheiras Esporte Clube
Nossos amigos de infância que fazíamos parte dos treinos no campo de Elifá, que por sinal só tinha uma bola e essa bola o dono era Geraldo Filho e todos nós, Pitoco( Jácio Mamede), Roberto, Eduardo, Didica de Joadi, Dárcio, Lourim o canhotinha de ouro, e tantos outros estávamos sempre por perto para jogarmos. O único empecilho eram as brigas, quando Pitoco batia de frente com Geraldo Filho o jogo acabava porque era o dono da bola e dizia logo; acabou o jogo.
Primeira foto - Cruzeiro fazendo a preliminar de Benfica X Alecrim - Natal-RN Local Mina Brejui = Arivonaldo (?) (?) Mundoca , Chaguinha, Meda, Cacau e (?) Agachados: Dedé Moura, Dora, Nenem de Zé de Góis, Caria, Fernando Brito, Antônio André e Carneiro Capado.
Ao descrever essas lembranças parece que sinto o bater da bola na calçada da nossa casa e o grito deles: Dona Nerci deixe Chaguinha ir jogar com a gente? E a resposta logo em seguida; só vai quando for fazer as compras e o dever de casa. Fazer as compras era uma carreira só e o ditado era na ponta do lápis. Parece que estou vendo-a mexendo o cuscuz, canjica no fogão e olhando ao redor o que via ia dizendo, telha, panela, garfo, faca, cadeira…e os amigos esperando batendo a bola na calçada enquanto terminava.
Pense numa carreira para o campo depois de tudo isso, aproveitar o tempo disponível.
Um fato bem curioso é que naquela época um surto de bexiga( varíola) se abateu na população e lá em casa só ficou minha mãe em pé para cuidar do resto da família e de portas fechadas para não pegarmos o vento frio não se abria sequer uma janela.
Os dias de isolamento foram passando e melhorando aos poucos, só que os amigos passavam todos dias batendo a bola na calçada e diziam: Chaguinha vamos jogar e minha mãe dizia que eu não podia por está doente. Só que num dias daqueles passaram batendo a bola e me chamando e foram direto para o campo a tara por bola nesse dia foi tão grande que abri a janela pulei e fiz carreira para o campo, entrei e fui jogar daquele jeito ainda doente todo marcado pelas bixiga taboca, fiz um gol e só deu tempo para isso meu pai chegou também doente para me levar de volta. Mas…fiz meu gol naquele dia.
Uma das pessoas esquecidas no esporte em Acari mas que contribuiu muito para a nossa geração foi Zacarias Cananeia (Caria) que conseguia com a sua liderança nos levar ao Estádio Pedro Celestino às quatro horas da manhã para treinarmos pelo Corinthians, mas antes de passarmos pelo mercado e Marcos de Pernambuco tomar café com cocada de goiaba observado pelos amigos Tanga entre outros era sempre uma festa de todos os dias.
O treinador também era ele o Carias e gritava, incentivava, orientava de acordo com o seu conhecimento e era muito curioso mesmo. Aos gritos: Bidoca, desloca e cai na ponta. Bidoca logo atendeu, parava a bola na lateral direita, deslocava como se fosse um contorcionista para trás e caia ao lado e gritava, “Assim Caria”. Depois vinham as risadas de Caria completando: Bidoca você não tem jeito não!!!
Quaisquer novidades dos treinos eram assuntos das rodas de conversas nas esquinas: Eliseu, Silvino Nunes, praça do coreto.
O Estádio Pedro Celestino foi uma luta de um grupo de jovens que conseguiram dar um novo rumo de desenvolvimento em várias áreas sociais para a juventude daquela época. Alguns, lembro ainda, como: Flávio de Zé de Sula, Lair de Carvalho, Dinda, Jerônimo, Renato de Seu Hosa, Edgar, ( …. ), como também foram os baluartes junto com Padre Deoclides para a construção da quadra de esportes do Centro Paroquial, nessa mesma época fundaram grupo de jovens cujo coordenador foi o Tico Melo e assim Acari foi tomando um novo impulso no cenário dos esportes, até porque, essa praga do “já teve” sempre dava um basta nas melhores idealizações fato que Seleção de Acari tinha parado pela segunda vez suas atividades.
Primeiro campeonato de futebol de salão Taça Hermenegilda Machado no Centro Social Paroquial 1971 =Em pé: Jorácio (in memorian), Macaco (in memorian), Toinho de Morais (in memorian), Agachados: Borrão (in memorian), Albuíno e Chaguinha.
Sem contar que a Difusora Municipal de Acari, que ficava ligada no coreto da pracinha falava de todos os movimentos sociais da época e o Sr, Joãozinho foi o maior incentivador, orientando-os nas transmissões, pelo menos são as as lembranças e interpretações. Época de ouro onde a pureza dos jovens tinha junto com a alegria a vontade de crescer, servir e compartilhar a felicidade de novos descobrimentos sociais.
Os tempos passaram e no período 1970/1971/1972 formaram novamente a Seleção de Acari comandada por Reginaldo Medeiros (grande benfeitor das coisas boas que já tivemos naquela época) e na relação de convocação da seleção Acariense para minha surpresa o segundo da lista com 14 anos de idade estava o meu nome e foi um grande movimento divulgado pela Difusora Municipal dos atletas convocados nos programas de esportes pela mesma turma de jovens que fizeram a revolução social grande e que considero um ponto de ruptura na história de Acari como um salto de modernidade servindo como base para todas as novidades que temos nos dias atuais.
Outros benfeitores do futebol Acariense foram: Mendes (in memorian), Joadi (in memorian), Reginaldo Medeiros (in memorian) e Silvino Nunes (in memorian). Todos esses com uma dedicação e um zelo enorme pelo futebol Acariense.
Tão logo acontecendo essas revoluções sociais todos eles tiveram que sair de Acari para Natal em busca de novos horizontes através dos estudos e formações profissionais, mas tenhamos em mente a larga contribuição daquela turma de jovens para um despertar. Algum momento eram divulgados pelos programas da Difusora Municipal como a turma do Bugaloo, a sede da Difusora passou para ser transmitida na casa de Mendes (in memorian) hoje o Armazém Delgados Materiais de Construção.
Podemos abrir um parêntese para falar dos tempos idos de crianças dos times: Alto do Açude, Alto da Caixa D’água, ABC, Campo da Merda no alto da SANBRA, time da rua da Maternidade e do outro lado do Rio, era assim conhecido o Bairro Petrópolis, Gasosa de Gargalheiras e quase sempre os embates entre as equipes terminava com uma guerra de pedradas entre as equipes quando o time da casa perdia.
Reserva da Seleção de Acari, no primeiro jogo contra o Benfica de Currais Novos, aos vinte minutos do primeiro tempo, Reginaldo Medeiros chegou perto de mim e disse: vou lhe botar para jogar, tem coragem? Perguntou e complementou: vá se apronte que confio em você. Foi o bastante para me encher de vontade mais ainda e entrei no lugar de Dedeca de Cruzeta, grande jogador, inteligente, clássico que estava jogando de ponta direita. Perdemos o jogo mas consegui a altura do que Reginaldo Medeiros esperava.
Nos dias seguintes Elias (Currais Novos ) grande volante titular absoluto na função esteve doente por várias semanas e entrei no lugar dele e tornei-me titular da posição por vários jogos até que novamente a Seleção entrou em estado de inércia novamente até os dias de hoje por falta de apoio, dificuldades financeiras tendo em vista que o Estádio Pedro Celestino não atendia a segurança para a obtenção de receitas em virtude de que era apenas cercada de aveloz.
Visita de jogadores do ABC de Natal a convite de José Bráz Filho - Prefeito. ao lado dele o Marinho Chagas
Quantos dos nossos craques do futebol nos perdemos pelas dificuldades daquela época, sem assistência de nada, até porquê as necessidades do poder público eram também urgentes, éramos assim: os sem chuteiras, os sem bolas, os sem ternos de camisas, os sem nada que jogávamos descalços na quadra quente, nos campos cheios de pedregulhos e que era preciso ser muito bons para adivinharmos quando a bola vinha em nossa direção pulando da direita para esquerda batendo nos pedregulhos. Imagine assim, quase trinta jogadores antes de um treino ter o direito de apenas um chute na bola, isso sem falar no horário entre as 15 horas e até anoitecer.
Naquela época apenas ouvíamos falar de futebol pela revista Placar que toda semana vinha para a banca de Zé Barbalho entre o Cartório e a lanchonete que por trás tinha um bar conhecido como buraco da Gia, hoje funciona o Banco do Brasil. Em 1970 fui a Currais Novos para assistir ao jogo da copa do Mundo pela televisão na casa de Sinderley e era tanta gente que conseguia ver o jogo sentado no chão e observando por baixo das cadeiras.
Dá até para citar vários jogadores bons de bola que conheci como: Toinho de Morais, Simão, Netinho de Teodoro (volante), Dora, Humberto (bigodinho) e Zé Velho que entre todos sempre foi a nossa referência de craque e gostava de vê-lo jogar.
Dos veteranos os melhores que sempre observava na seleção: Zé Velho, Canteiro e Vando, esses três sempre foram para mim um espelho em como se jogava futebol. Parece até que soa aos ouvidos na lembrança os gritos de canteiro chutando com o lado externo do pé em que a bola fazia curva nos lançamentos e gritava para o ponteiro: vai pegar sôia. Sei lá o que significava sôia, só sei que foi assim…chicó!!!
Porém, dois outros jogadores que marcaram bem a história do nosso futebol foram Fernando de Zé Bolim, grande centroavante, e Cambeba, ponteiro direito, ambos de Carnaúba dos Dantas.
Não lembrar do nosso grande capitão Tota de China seria até um descaso com a história do nosso futebol. Na volta dos jogos em outras cidades comandava o “maneiro pau maneiro ou” enquanto ele fazia as rimas enaltecendo ou chamando a atenção de quem jogou bem ou jogou mal. Uma outra era a de “Josefina tem uma flauta..a flauta de josefina” e as rimas assim continuavam enquanto a garrafa de Pitú braba passava de boca em boca para espantar o frio, principalmente nos jogos contra Cuité, Nova Floresta -PB. Ainda bem, que a paciência no volante da camioneta de um dos nossos torcedores de elite o Sr. Caneludo nos trazia assim segurança pela sua responsabilidade
Em dezembro de 1975 recebi a visita de um representante do ABC Futebol Clube para fazer um teste naquele clube e tive a felicidade de jogar como meia direita ao lado de Maranhão que fazia dupla de meio campo do ABC e eram ex- jogadores do Vasco da Gama Rio de Janeiro. Essa é uma longa história, melhor deixar quieta apenas nas minhas lembranças. Passei em todos os testes e já estava pronto para ingressar nos quadro do juvenil do ABC, porém em janeiro de 1976, me incorporei ao Exército e os sonhos foram para o brejo por falta de orientação de vida, simplesmente achei que tinha perdido a oportunidade como de fato a perdi.
Chaguinha e Cola - 1975
Com a máxima do Acari do que “Tudo Já Teve”, terminava a vida útil de um time e surgia outros, como América, Cruzeiro até que surgiu o Vasco de Acari, criado pelo Neguinho do olho só (nome não lembro …se vira) e logo em seguida passou a ser comandado por Mundoca junto com Neguinho de Albino que por sua vez era o roupeiro e a partir de daquele momento os times foram sendo engolido e ficando apenas o Vasco representando o futebol de Acari.
Primeira foto do Vasco: Em pé: Mundoca(roupeiro) Inácio Camarão, Neguinho do olho só( coloque o nome pelo amor de Deus) Carcará, Tico, Nelson e Cacau. Agachados: (?) Antônio André, Chaguinha, Genilson, Roberto de Hosa e Romildo.
Algum tempo depois surgiu o Bonsucesso Futebol Clube que foi um embate tremendo entre as equipes do Vasco e do Bonsucesso e fiz parte dos quadros do VAsco e do Bonsucesso criado por Arivonaldo e logo depois continuou com Ioelson(in memorian) e depois comandado por Fernandão e obtivemos glórias ao Acari pelas vitórias, com uma torcida de jovens o Pedro Celestino era palco de muitos torcedores aos domingos, foi uma época muito boa de crescimento ao esporte Acariense.
Foto do Bonsucesso: Eraldo, Cocola, Dora, Tota, Paulo de Cruzeta e Macado. Agachados: Dão Velho, chaguinha, Luiz, Dedeca de Cruzeta (craque inteligente e Téu. Mascote: Mário de Zélia.
Tempos depois o Bonsucesso caiu na praga do “Já Teve” e assim ficou somente o Vasco e alguns times de bairros e da zona rural como o Flamengo da Beira do Rio.
Foto do Bonsucesso: Em pé: Fernandão, Paulo, Tota, Dora Cocola, Eraldo, Macaco e Roberto Rack (treinador) Agachados: Dão Velho, Chaguinha, Téu, Dedeca e Carcará - Mascote Mário de Zélia.
Dessa época em diante só Vasco e suas glórias e também decepções, muitas das vezes para manter a esperança na torcida aos domingos que acompanhava o time aonde quer que fosse jogar até o feito maior do vice campeonato do Matutão, 1980, disputado as finais em 1981 em Natal que outros deverão falar com mais detalhes.
Ao ingressar no Banco do Brasil em 1980, muitas coisas mudaram com relação às disponibilidades de tempo, mas mesmo assim, ainda joguei pelo time de Alexandria, alguns jogos, depois fui transferido para a agência de Caicó-RN, joguei pelo Corintians e depois pelo Caicó Esporte Clube, poucos jogos, além de me dedicar mais ao futebol de salão pela AABB.
Time de futebol de salão AABB Caicó 1982 = Em pé; Dedé Gato (treinador) Chico Véras, Vivi, João Morais, Roberto e Peruano. Agachados: chaguinha, Fernando Resende, Wilson, Dimas e Roberto.
Do Vasco de Acari
O Vasco de Acari foi o único time de futebol que resistiu à praga do espírito do “Já Teve” em nossa cidade, sobreviveu por mais de décadas e só perdeu sua hegemonia para a ausência do seu Presidente Mundoca e Neguinho de Albino.
Nunca consegui ver o Vasco de Acari sem a presença de Mundoca, são muitas passagens interessantes e decisões que marcaram época em qualquer programa humorístico na TV As vezes ficávamos chateados, mas depois usávamos os próprios fatos para tirar alguma vantagem em risadas conjuntas.
As preocupações mais constantes que tínhamos era com relação aos transportes que geralmente era utilizada a caminhonete de Caneludo (grande figura paciente nas viagens), isto quando os times adversários conseguiam também pagar de forma justa que desse para suprir as despesas do transporte e muitas das vezes sobrar alguma trocado para a cachaça da festa do “maneiro pau, maneiro ou”, comandada pelo capitão Tota de China com tira gosto de bolachas.
Certa vez fomos jogar numa comunidade em Jardim do Seridó e perdemos o jogo e a torcida adversária tirando sarro da nossa cara quando já estávamos em cima da camionete para viajarmos de volta e todos calados para evitar as pedradas da torcida o Mundoca se levantou no meio de todos e gritou bem alto para os torcedores adversários: deixem de ser bestas porque nós viemos somente buscar o dinheiro de vocês. Não lembro bem, mas parece que foi o Zé Velho que respondeu: Como!!! Mundoca se o que eles pagaram não vai sobrar nem para a cachaça e pagar o carro. Tudo isso era motivo para mais gargalhadas. Uma festa!!!
Outra vez de saída para jogarmos em São Vicente já em cima da hora chega Mundoca preocupado com a ausência de Mamar (grande zagueiro clássico de Currais Novos que gostava muito de jogar com a gente) e se direciona ao Silvano Medeiros: Silvano tamu lascado zagueiro, só tem você para entrar no lugar de Mamar. Nem sequer terminou Silvano replicou: porra Mundoca você ao invés de me incentivar ainda vem dizer que estamos lascado se eu jogar. Como sempre franziu a testa quando não gostava de alguma coisa, apesar de não falar mas terminou olhando para a todos e caímos nas gargalhadas.
Festa para nos deixar animados para jogar como uma espécie de descontração quem construía mesmo era Dora pense num amigo presepeiro só fazia tudo na brincadeira e chamava Zé Velho de carequinha, cantava para Mundoca que por sua vez fechava o cenho enquanto observava e pensava “isso vai dar merda”, Ora! Dora descobriu que lá em Mundoca fabricavam cocadas para vender e que o apelido de Mundoca quando criança era de “quiblibinha”, não deu outra: a escolhinha do quiblibinha, estuda a Muda, Candura e Lourdes ventoinha…a escolinha do quiblibinha o diretor é papai das cocadinhas. Só farra!!!
Dora era um zagueiro muito forte, começou jogando na lateral esquerda, batia forte na bola mas esse dom de ser moleque não escolhia local nem hora para brincar, se em reuniões ou em conversas antes dos jogos na preparação para entrarmos em campo ele sempre dava um jeito de arrancar risadas de todos. Na preleção cada um dizia algo que incentivava uns aos outros: eu, Zé Velho, entre outros, cuidados com a defesa, não brincar, rebater a bola quando preciso for, tocar de primeira, olhava para Oscar e pedia para não prender bola, e já ouvia um “vá se lascar eu driblo mesmo” e se completava como resposta que era para ele não levar tanta porradas porque batiam no Oscar sem dor nem piedade e ainda obtinha como resposta um “deixa que me viro” depois de todas essas conversas surgia o Dora olhava para o Téu e dizia, cuidado para não chutar com o cú do pé (era um jeito meio esquisito que Téu chutava que só ele sabia fazer), encerrando assim com as gargalhadas pelas colocações de Dora.
Não esqueço mesmo foi quando certa vez fomos jogar em Lagoa Nova_RN, na Serra de Santana fazia um frio leve (nesse dia Oscar dentro da areia frouxa era obrigado a tentar passar até mesmo por entre as pernas dos marcadores quando o derrubaram) antes do jogo o Juiz chamou a todos no centro e pediu encarecidamente para que tivéssemos paciência com o centroavante do time de Lagoa Nova porque ele era surdo e mudo e muitas vezes não entenderia se ele apitasse um impedimento ou uma falta qualquer e o mesmo não desse a devida atenção. Nesse momento olhei para Dora e estava rindo muito e pensei logo “aí tem coisa quero mesmo ver”, Começou o jogo e lançavam a bola para o centroavante surdo e mudo e Dora nem corria atrás dele só acompanhava quando parava a bola Dora colocava os dois dedos na boca fazendo menção que o Juiz tinha apitado, logo o mudinho deixava a bola e saia de cabeça baixa. Não há como esquecer as risadas de Dora tirando sarro da cara do mudinho.
A tarde os treinos eram a partir das 15 horas quase trinta jogadores para uma única bola que por sua vez para ser conservada em sua vida útil a mesma era pintada com camadas de tinta a óleo branca que a batida com o chute parecia sentir um que estava batendo numa tábua, dava aquele estalo seco
Dora não contava outra ficava pegando no pé de Zé Velho para cabecear a bola e logo vinha a resposta de Zé Velho no “ vou lá cabecear essa porra” e dava um sorriso como sinal de que nada o tinha ofendido.
São muitas as lembranças principalmente dos jogos contra o Grêmio de Carnaúba dos Dantas em que as torcidas se rivalizavam nos jogos, torcedores marcavam presença e até mesmo se dividiam nos locais do estádio.
Quando surgia uma briga no meio da torcida, só se via o rebuliço principalmente quando o Sr. Emídio muito forte jogava os que tentavam o agarrar pelo espaço nas rodas de conversas aumentavam sempre o drama dos ocorridos: só via mesmo Sr Emídio jogando os caras por cima do aveloz. Tudo isso era motivo de chacota e risadas.
É preciso que se reconheça a dedicação de Silvano Medeiros Silva no apoio ao time de várias as formas, inclusive, auxiliando Mundoca quando era procurado nas decisões, ajudas financeiras quando quase sempre necessitava, claro que sempre na medida do possível, assim como tantos outros também faziam para ajudar. As vezes sempre digo que o Vasco era um time que os técnicos eram os torcedores: no tira fulano que não está jogando nada, pede a beltrano para soltar mais a bola, e isso no intervalo sentados no campo mesmo tomando água com gelo que o goleiro (nome dele) que tinha apelido de Macaco a óleo, colocava Éter dentro do isopor.
Sobre o Matutão e o vice campeonato nem mesmo sei como chegamos a tão longe porque a falta de estrutura para aquela disputa não tinha a menor chance devidos aos problemas ocasionados ou até mesmo propositalmente provocados. Vejam: O time viajou num microônibus, jogou a tarde vencemos ao jogo e fomos para disputa do título no outro dia 10 horas da manhã, sem dormir a maior parte do time porque no local não os deixaram dormirem, alimentação no café da manhã pelo que me disseram café com banana e pão, jogadores machucados pelo o embate do dia anterior, perdemos um centroavante de peso que foi o Idameci de Currais Novos, porque não o deixaram jogar e o mesmo evadiu da concentração e retornou a Currais Novos, tudo isso antes do jogo.
Mesmo assim, perdemos de 1 x 0 numa bola chutada de fora de área o vento muito forte o goleiro Fumeiro levou um frangaço, mas ficou no esquecimento porque nos jogos anteriores como o contra João Câmara só ganhamos por uma atuação milagrosa desse mesmo goleiro.
Matutão vice-campeão: Dedé, Mamar Eraldo, Téu, Fumeiro, (?) e Chaguinha. Agachados: (/), Oscar, Binha, Cola e Zé Velho.
Foram três décadas de ouro para a nossa cidade de Acarí. A torcida abraçou aquela nossa causa e fazia parte integrante dos nossos entusiasmos para com o jogo de futebol.
Apenas era a única opção que a cidade tinha naquele momento. Da concentração ficávamos observando o povo subindo para o Estádio Pedro Celestino e os comentários entre todos nós e que daríamos o máximo para ganharmos aquele jogo e dar alegria aos nossos torcedores.
Não era também de se admirar que por várias vezes a preocupação geral era saber se o time adversário já tinha chegado porque era a parte principal e várias vezes os jogos era cancelados porque o adversário não teve condições de vir a peleja e nos deixavam tristes naquele domingo em ver novamente a torcida descendo do Estádio sem ver ao jogo, sem falar nas lamentações por um domingo a tarde sem a presença nos jogos.
O Vasco de Acari poderia ter sido transportado no tempo para os dias atuais? Não acredito porque a necessidade da época fazia com que a população se adaptasse com o melhor que tínhamos naquela época de muitas dificuldades e o futebol era aquela válvula de escape da população para sentir-se bem feliz de alguma forma.
Nos dias de hoje a internet, jogos ao vivo na televisão e tantos outros atributos de passa tempo e dedicação não acredito de forma nenhuma que teríamos o mesmo sucesso.
Acredito ter sido um presente que Deus deu ao povo de Acari para que hoje possamos observar que a felicidade ela existe e depende do momento e da situação que podemos ter com as disponibilidades de cada momento, basta sermos felizes e ponto final.
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